HISTÓRIA

O texto abaixo, com algumas modificações, aparece em 5 páginas da Internet sem qualquer referência à fonte de origem.
A restinga hoje ocupada pelo bairro do Leblon já era habitada desde priscas eras. Há provas que os primeiros agrupamentos indígenas assentaram naquela região por volta do século VI.
Um mapa francês de 1558 situa a aldeia tamoia no Leblon (aldeia "Kariané").
No ano de 1575 assume o governo da Capitania do Rio de Janeiro e parte sul do Brasil o Governador Antônio de Salema, natural de Alcácer do Sal (152?-1586). Salema era um jurista formado em Coimbra, e que odiava os índios. Antônio Salema, em seu mandato de três anos (1575-1578) descobriu uma lei editada pela Metrópole isentando de impostos por dez anos quem erguesse engenhos de cana de açúcar no Brasil. Inclusive, desde 1573, já existia um pioneiro engenho de cana em Magé, erguido pelo seu antecessor no governo, o Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros. Salema decidiu pura e simplesmente extinguir os índios tamoios das aldeias da Lagoa, Ipanema e Leblon para lá erguer seu engenho, que seria movido à água, muito abundante haja vista os inúmeros córregos no local ("Macacos ", "Rainha", "Iglésias", etc.). Mandou jogar no mato adjacente à Lagoa diversas mudas de roupas de doentes de varíola. Os índios pegaram as roupas, vestiram, pegaram varíola por contágio e morreram. Foi a primeira guerra bacteriológica nas Américas...
Onde hoje está o Jardim Botânico, mandou erigir um engenho de cana, ao qual denominou "D`El Rei". O engenho não deu certo de início e em 1584 foi sugerida sua venda. Quatorze anos depois, ele foi vendido ao Vereador Diogo de Amorim Soares, vindo da Bahia (1558?-1609?), que o rebatizou de "Engenho de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa". Soares, retirando-se da cidade em 1609, revendeu as terras no ano anterior a seu genro, Sebastião Fagundes Varela, natural de Viana do Castelo (1563-1639), casado com sua filha Da. Maria de Amorim Soares (1589-1676).
Fagundes  logo ampliou as instalações do engenho e, para tal, cobiçou para sua empresa os terrenos de marinha. Os primeiros proprietários das praias da zona sul carioca, afora os índios tamoios, foram poucos portugueses. Em 1603 Antônio Pacheco Calheiros (1569?-1634), vereador em 1619, casado com Da. Inês de Leão, obteve enfiteuse de terras que iam do engenho de Diogo de Amorim Soares (Lagoa) até a "costa brava" (Leblon), correndo até a Gávea (Vidigal). Em 1606, Afonso Fernandes e sua esposa, Da. Domingas Mendes obtiveram carta de sesmaria da câmara que lhes davam o aforamento de "300 braças começadas a medir do Pão de Açúcar ao longo do mar salgado para a Praia de João de Souza (Botafogo) e para o sertão, costa brava, tudo o que houvesse". Eram todos os terrenos de marinha do Leme ao atual Leblon. Pagavam foro de 1000 réis.
Em 1609, Da. Domingas, já viúva, trespassa esse aforamento a Martim de Sá (1575-1632), Governador do Rio de Janeiro (1602/08, e 1623/32), filho do então ex-Governador Salvador Corrêa de Sá, nascido em Barcelos (1542-1631, governou em 1568/72 e 78/98) para benefício do engenho que o mesmo possuía na Lagoa. Esse engenho, denominado de "Nossa Senhora das Cabeças", não foi adiante, haja vista que Martim estava erguendo outro maior em terras que obtivera na aldeia de "Guaraguassú Mirim" (atual Barra da Tijuca). O aforamento então foi sendo aos poucos repassado, sucessivamente em 22 de junho de 1609, das terras que iam desde o Pão de Açúcar até a "Praia Brava" (Leblon); em 23 de setembro de 1611 (mais terras ); em 19 de julho de 1617 (para aumento de pastos); e em 1619 ao dono do "Engenho de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa", Sebastião Fagundes Varela. O aforamento era por 9 anos e tinha mais 400 braças para o sertão, permitindo a Varela explorar para pasto e extração de madeiras para seu engenho.
Varela ficou assim, aos poucos , dono de todas as terras que iam do Humaitá ao Leblon. A extensão de suas posses abrangiam 1700 braças de testada e 4.500.000 braças de área, que englobava a atual Lagoa Rodrigo de Freitas. Os terrenos pagavam foro de 6$400 réis ao "Senado da Câmara". Esse latifundiário criava gado nessas praias, onde suas vacas pastavam entre cajueiros, ananases e pitangueiras.
Em 1702, a herdeira de Varela, sua bisneta, Da. Petronilha Fagundes (1671-1717), era uma solteirona de trinta e um anos, numa época em que as mulheres casavam com doze, ou até menos idade. Petronilha casou-se com um jovem oficial de cavalaria, Rodrigo de Freitas de Carvalho (1686-1748), natural de Suariba, Freguesia de SamPayo de Visella, Têrmo da Vila de Guimarães. Ele com dezesseis anos. Alguns anos depois, em 1717, Rodrigo de Freitas, já viúvo, voltou para Portugal, onde passou a residir em sua quinta de Suariba. Lá morreu viúvo em 1748. Sua enorme fazenda, que englobava a Lagoa que lhe acabou por herdar o nome (e, igualmente, eternizar na topografia carioca o "golpista do baú" mais bem sucedido em nossa cidade...), será arrendada a particulares, ficando decadente até princípios do século XIX.
Nada existia edificado. Ainda em 1645, o Governador Duarte Corrêa Vasqueanes proibira aos pescadores que edificassem suas casas na praia, com medo de um desembarque holandês para tomar o Rio de Janeiro.
Em 1808 o Príncipe D. João manda desapropriar o engenho da Lagoa por decreto de 13 de junho, com o fito de alí instalar uma fábrica de pólvora, aproveitando-se os terrenos circundantes para neles criar o Real Horto Botânico, origem do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ele visitou essas terras em janeiro de 1809, sendo mal recebido pelos escravos e feitor do engenho, que abaixaram as calças à sua passagem. D. João ordenou depois a prisão dos escravos e a perda de todas as mercês e benesses ao feitor e proprietários daqueles chãos.
Era herdeira daquelas terras Da. Maria Leonor de Freitas Mello e Castro (1773-183?), filha de Rodrigo de Freitas Mello e Castro (1740-1803), e bisneta do primeiro Rodrigo de Freitas. Procedeu-se a avaliação da propriedade e a indenização. Julgada a adjudicação por sentença de 30 de janeiro de 1810, foi estipulada a quantia, sendo as terras incorporadas aos próprios nacionais, com as formalidades da lei de 28 de setembro de 1835. Da. Maria Leonor recebeu por estas terras R$: 42:193$430 contos de réis, pagos após a Independência em 1826. Os terrenos de marinha, que não interessavam aos propósitos do Jardim Botânico, foram repassados.
Toda a orla marítima da zona sul, possuía então o nome de "Fazenda de Copacabana", e foi adquirida em 1808 por Da. Aldonsa da Silva Rosa, uma chacareira. Da. Aldonsa não ficou muito tempo com ela, tendo-a revendido em 1810 ao português Manoel dos Santos Passos, que, ao morrer, legou em testamento para seu sobrinho Antônio da Costa Passos, ficando com elas até 1819. Antônio, assim com o seu tio, legou as terras em testamento para seu filho, João da Costa Passos. João era, em 1827, administrador da Capela de Nossa Senhora de Copacabana, na Ponta da "Igrejinha", erguida antes de 1746 (provavelmente em 1732) e depois demolida. João não ficou, entretanto, muito tempo com suas terras de Ipanema, vendendo-as em 1820 para Inácio da Silva Melo. Inácio, ao morrer em 1843, deixou tudo para dois sobrinhos, Francisco da Silva Melo e Francisco Nascimento de Almeida Gonzaga e eles logo depois venderam tudo em 1844 para Bernardino José Ribeiro. Ano seguinte, Bernardino vende tudo ao empresário francês Carlos Leblon o qual instalou no final da praia sua fazenda (que seria conhecida como "O Campo do Leblon") e empresa de pesca de baleias, a "Aliança".
O negócio ia bem, pois das baleias "espermacetes" do gênero "cachalote", abundantes em nossos mares, extraía-se o famoso óleo, que era usado não só como "concreto" em nossa construção civil, muito estimulada pelo crescimento da cidade no Segundo Império, como igualmente servia como combustível para iluminação, atividade incrementada por D. Pedro II, que mandou ampliar a iluminação pública das ruas do Rio por lampiões de óleo de baleia, principalmente depois de sua ascensão ao trono em 1841.
A pesca fazia-se não só de barcas baleeiras, apelidadas de "Alabamas" por provirem tais naves deste estado americano, como também do alto das pedras da praia, que por este motivo apelidou-se "Arpoador".
Em 1851, Irineu Evangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá (1813-1889), iniciou as obras para poder proceder à iluminação à gaz no Rio de Janeiro, com os primeiros postes na rua Direita, atual Primeiro de Março. Em 25 de março de 1854 foi inaugurado este serviço, atingindo outros bairros além do Centro. Com isso, caiu o negócio da pesca de baleias no Rio, tendo Carlos Leblon vendido suas terras da Fazenda Copacabana" em 1857 ao tabelião e empresário Francisco José Fialho (1820?-1885), que adquiriu a parte que ia da atual rua Barão de Ipanema, em Copacabana, até o pico dos Dois Irmãos. Fialho, envolvido em vários negócios (dentre eles a restauração do "Passeio Público"), vendeu suas terras em 1878, divididas em dois grandes lotes. A área do lote um, correspondendo ao atual bairro do Leblon foi retalhada em três grandes chácaras, vendidas a particulares, um deles o português José de Guimarães Seixas.
Ao final do século XIX, às vésperas da Lei Áurea, existiam dentro da cidade do Rio de Janeiro diversos quilombos de negros fugidos. Havia-os em Vila Isabel, Penha, Engenho Novo, bem como nas matas do Corcovado, Santa Teresa e Laranjeiras.
Destes, o mais curioso foi, sem dúvida o do Leblon ou do "Seixas".
José de Magalhães Seixas nasceu em Portugal em 1830 e com quatorze anos emigrou para o Brasil, naturalizando-se em 1875. Dedicou-se ao comércio de malas e artigos de couro, fundando casa comercial no Centro, onde amealhou fortuna. Com ela, comprou em 1878 do Tabelião Francisco José Fialho (1820?-1886) enorme chácara de dois milhões e setecentos mil metros quadrados na base do Morro Dois Irmãos, no Leblon, onde, em meio a luxuriantes jardins de camélias banhadas por regato de águas cristalinas, ergueu bonita casa. Esta ficava onde hoje existe o Clube Federal, na base do Pico dos Dois Irmãos (533m de altitude), na rua Alberto Rangel, ao final da rua Sambaíba.
Eram terras que de 1845 a 1857 pertenceram ao francês Carlos Leblon, que alí manteve uma empresa de pesca de baleias. Seixas abraçou a causa da abolição e não poucas vezes abrigou dezenas de negros fugidos numa caverna que existiu nos fundos da chácara, cuja entrada ocultava por portão recoberto de Coroas de Cristo.
Era tão bem feita a camuflagem que o quilombo escapou incólume de todas as revistas policiais.
A 13 de março de 1887, dia de seu aniversário, Seixas deu monumental festa em sua casa, convidando para o banquete a fina flor do abolicionismo. Compareceram o deputado Joaquim Nabuco, o vereador João Clapp, os jornalistas José do Patrocínio (também vereador), Luiz de Andrade, Domingos Gomes dos Santos, Campos da Paz, Luiz da Fonseca, Ernesto Senna, Arthur Miranda, Brício Filho dentre outros. No final da festa, os convidados receberam a visita de cinqüenta negros quilombolas alí acantonados, cujo líder fez tocante e inocente discurso de agradecimento. Respondeu Joaquim Nabuco com o mesmo linguajar dos escravos, bradando oração tão emocionada que levou os ouvintes ás lágrimas.
À meia noite, os convidados partiram á pé pelo "Caminho do Pau", atual rua Dias Ferreira, para pegar o bonde no "Largo das Três vendas", atual "Praça Santos Dumont", no Jockey. Foram todos es coltados pelos quilombolas, cada um munido de instrumentos musicais, flautas, gaitas, violões e cavaquinhos, num cortejo musical onde pontilhou a música negra e antecipou em quarenta anos nossos desfiles de Escola-de-Samba. Quando os convidados embarcaram no bonde, o vereador João Clapp bradou um "viva aos negros quilombolas", que foi respondido com entusiasmo.
Quatorze meses depois, quando a Princesa Isabel assinou a lei de 13 de maio que extinguiu a escravidão no Brasil, os negros do "Quilombo do Seixas" saíram da caverna, levando braçadas de camélias do jardim de Seixas, em procissão à pé até o Paço Imperial para ofertá-las à Princesa.
Há um consenso entre os pesquisadores da História do Leblon, que o nome é originário do cidadão francês, Charles Le Blon. Ele era proprietário de um trecho de terra, no local, que se estendia do final da praia à Avenida Bartolomeu Mitre até o antigo Hotel Leblon. Antes do início da Avenida Niemeyer, esta área foi conhecida até o final do século XIX como o Campo do Leblon.
O Leblon foi loteado no início do século XX.
Só em 1918 acontece a primeira ligação com Ipanema, pela praia, e depois foi feita uma ponte sobre a barra da Lagoa ligando as Avenidas Vieira Souto, em Ipanema e a , no Leblon. O Leblon não tinha luz elétrica, que só chegava a Ipanema. Havia poucas ruas, uma delas a Rua do Sapé, que ia do Largo das Três Vendas (Praça do Jóquei) até o Largo da Memória. Seria, hoje, a parte final da Avenida Bartolomeu Mitre. A rua Tubira também já existia, sendo a ligação para as areias da Praia do Zé do Pinto, que mais tarde deu lugar à favela da Praia do Sr. Pinto (depois Praia do Pinto), uma das maiores da Zona Sul do Rio.
O Largo da Memória ficava entre as ruas Tubira e Juquiá, em frente ao quartel da PM. Havia uma trilha, simples caminho de areia, que partia do Largo da Memória, seguia pela Praia do Sr. Pinto com o nome de Travessa do Pau (Rua Conde de Bernadotte) e ia em direção ao mar. Mas antes passava pela Pedra do Bahiano (atrás do Conjunto dos Jornalistas) para encontrar o Caminho da Barra, que é como se chamava a margem do Canal no Jardim de Alah.
Em 1919 a Companhia Constructora Ipanema, localizada na Rua do Ouvidor, 139 - Centro, vendia terrenos "a dinheiro ou a prestações em Ipanema e Leblon".
A planta do loteamento, aprovada pela Prefeitura do Distrito Federal em 26 de Julho de 1919 mostra as ruas do bairro com seus nomes e localização.

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A primeira transversal à Avenida Ataulfo de Paiva, para quem vem de Ipanema, era a Avenida Afrânio de Melo Franco, que já tinha esse nome em 1919. Em seguida temos as seguintes ruas, com seus nomes da época e os atuais:


- Rua Dom Pedrito - Rua Almte Guilhem
- Rua Francisco dos Santos (rua 10) - Rua Carlos Góis
- Rua Francisco Ludolf (rua 11) - Rua Cupertino Durão
- R. Com. Agostinho das Neves (12) e Acaraí - Rua José Linhares
- Rua Domingos Moitinho (rua 13) - Rua João Lira
- Rua Conde de Avellar (rua 14) - Avenida Bartolomeu Mitre
- Praça Conde de Frontin - Praça Antero de Quental
- Rua 15 (terminava na praça) - Rua General Urquiza
- Rua Azevedo Lima (rua 16) - Rua Gen Venâncio Flores
- Rua J.Antônio dos Santos (rua 18) - Rua Rainha Guilhermina
- Rua Aristides Espínola (rua 19) - Rua Aristides Espinola
- Rua Rita Ludolf (rua 20) - Rua Rita Ludolf
- Rua 21 - Rua Jerônimo Monteiro
- Rua Dr. Del Vechio - Avenida Gen San Martin
- Av. Ataulfo de Paiva - Av Ataulfo de Paiva
- Av. Delfim Moreira - Avenida Delfim Moreira
- Rua do Pau e Sapé - Rua Dias Ferreira
- Travessa do Pau - Rua Conde Bernadotte
- Rua José Ludolf - Rua Humberto de Campos
- Miguel Braga (rua 17) - Rua General Artigas
Em 1920 o Prefeito Carlos Sampaio, realizou o saneamento e embelezamento da Lagoa, a construção da Avenida Epitácio Pessoa e de dois canais distintos: o da barra comunicando a Lagoa com o mar, que hoje é o Jardim de Alah e do canal da Avenida Visconde de Albuquerque, no final do Leblon
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O Leblon em 1918, entre o mar e a lagoa
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Rua Dias Ferreira

Foi a primeira rua do Leblon e a única que permitia se chegar ao bairro, que cortava o Leblon do Largo da Memória até a Praça Ataualpa e que se chamava rua do Sapé, corruptela de Essá-pé, que significa "caminho iluminado". Ao fundo, o Morro Dois Irmãos, símbolo sagrado do bairro.
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A Dias Ferreira na década de 1950-60 (?). O “lotação” e trilhos do bonde.
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Abaixo, reprodução de texto contido na página 931 da segunda edição da ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Souza (São Paulo, 2001), extraído do livro “O Antigo Leblon”, de Rogério Suarez Barbosa Lima, Editora Antigo Leblon, 1999-2005.
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O que era um campo arenoso, semeado de alagadiços e brejos, coberto de pitangueiras, espinheiros, palmeiras anãs, cactos e araçás, onde moravam uns poucos pescadores, deixou de ser um apêndice da Gávea para assumir as feições de bairro independente, por ocasião da Primeira Guerra Mundial, a partir da instalação de um ramal de tramways pela beira da praia, no trecho que, em 1918, passou a chamar-se Avenida Delfim Moreira.
Nesse local, os carris faziam conexão com a linha originária da Gávea, que percorria a Rua do Pau (hoje, parte Dias Ferreira, parte Conde Bernadotte), seguindo em direção à praia pela Rua do Sapé (atual Bartolomeu Mitre).
A linha circular Copacabana-Ipanema-Leblon-Gávea seria consolidada em 1938, com a construção de uma ponte sobre o canal do Jardim de Alá, ligando a Rua Visconde de Pirajá à Avenida Ataulfo de Paiva, colocando um fim às baldeações e à circulação de bondes pela praia.
Antes disso, em 1920, arranjaram o traçado dos dois canais existentes na restinga, ligando a lagoa ao mar e, entre eles, meteu-se o Leblon, que os ipanemenses chamaram de ilha, comparação ou expressão atribuída a Homero Homem.
Até o início do século, nem mesmo na linguagem do povo, aquele conjunto de chácaras desmembradas da antiga Fazenda Nacional da Lagoa tinha o nome de Leblon. Sua origem remonta a um francês chamado Charles Leblon, proprietário de um lote no areal — um quadrilátero delimitado, num sentido, pelas atuais Av. Visconde de Albuquerque e Rua General Urquiza e, no outro, pela Dias Ferreira e o mar —, que se convencionou chamar de Campo do Leblon. Um incidente, como veremos adiante, dada a publicidade que despertou, contribuiu para que o nome ´pegasse`.
Novidadeiros pretendem que o toponímico derive de um dos atributos físicos do peregrino (le blond, ´o louro`), como se já não bastasse o sobrenome...
Emannuel Hyppolite Charles Toussaint Leblon de Meyrach, filho de Louis Charles Leblon de Meyrach e Virginie de Angles, nasceu, em 1804, na cidade francesa de Marseille, emigrando muito jovem para o Brasil, onde veio a falecer, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1880.
Conforme certifica a Catedral Metropolitana de Niterói, revendo termos de casamentos realizados na Paróquia, consta no Livro 1, Folhas 21 e 22, o casamento — celebrado em 28 de setembro de 1839 — de Manuel Hipólito Carlos Leblon e Francisca F. Ornellas Teles, filha do Brigadeiro² Francisco de Ornellas Teles Barreto e de Maria Pimentel do Vabo. Do enlace, resultou numerosa prole.
Como se vê, Carlos Leblon já havia se acariocado, e é com esse nome abreviado que vai firmar todos os documentos e contratos ajustados no Brasil, entre eles o que formalizou a aquisição das terras mencionadas, adquiridas de Bernardino José Ribeiro em 1845, quando ali instalou uma fazenda destinada à criação de gado e criou uma empresa com a finalidade de explorar a pesca de baleias, atividade empreendida mediante o uso de barcas apelidadas de ´Alabamas`, ou pela ação de homens encarapitados no alto das pedras debruçadas sobre o mar (daí a origem da Praia do Arpoador, rochedo mais avançado mar adentro). A empresa chamava-se Aliança. Curiosamente, a Aliança Navegação, gerida atualmente por um grupo alemão, possui um cargueiro denominado Leblon.
A gordura das baleias do gênero ´cachalote` era aquecida para a fabricação do óleo que servia como combustível para os candeeiros que iluminavam as ruas do Rio e, também, integrada à argamassa do sólido concreto reclamado pela construção civil, estimulada no Segundo Império. Quase tudo no generoso cetáceo tinha préstimos: os ossos eram queimados para a obtenção de cal; com o marfim dos dentes, eram feitos objetos de arte; com as barbatanas, fabricavam-se espartilhos.
Aconteceu, no entanto, que, em 25 de março de 1854, por iniciativa de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, foi inaugurado na cidade o serviço de iluminação à gás, o que conspirava contra os interesses do Sr. Carlos Leblon. Um pouco antes, em 1851 (aí entra o tal incidente que contribuiu para celebrizar o nome ´Leblon`), mais precisamente em 23 de fevereiro, o Jornal do Commercio recebeu carta — que fez publicar — do Sr. Carlos Leblon queixando-se do desrespeito ao seu direito de propriedade “garantido pela Constituição Política do Império” pelo fato de ter o Ministro da Guerra requisitado parte de sua fazenda para a prática de exercícios militares, o que danificaria as pastagens e traria desassossego aos animais destinados aos serviços da chácara. Em razão do protesto ou sem ele, o Decreto Imperial nº765, de 8 de março de 1851 mandou desapropriar um terreno com oitenta palmos de largura e o comprimento necessário para prolongar até à praia a rua que se dirigia “à casa de Carlos Leblon, na Lagoa Rodrigo de Freitas” — o arranjo repercutiu na imprensa e foi muito comentado na Corte.
Beneficiado aqui, prejudicado ali, o fato é que, em 1857, Charles Leblon vendeu suas terras ao empresário e tabelião Francisco José Fialho, que as revendeu, em 1878, a particulares, entre eles o português José de Guimarães Seixas, cuja casa ocupava o terreno onde hoje está o Clube Campestre, na Rua Alberto Rangel, no alto da Rua Igarapava. Em sua casa, o empresário — adepto da causa abolicionista — abrigou negros fugidos, e por isso sua chácara passou a ser conhecida como Quilombo do Seixas, ou, como querem alguns, Quilombo do Leblon.
Mas, o Leblon não começou com nosso caro Charles. Dizem que aborígenes ocuparam a região desde o século VI. As terras circunvizinhas à Lagoa Rodrigo de Freitas já eram palmilhadas pelos franceses antes da fundação da cidade, quando de sua frondosa mataria extraíram o precioso pau-brasil. Um mapa francês, de 1558, situa no Leblon a aldeia Kariané. Esses tamoios teriam dado ao sítio o nome de Ypaum (espaço entre canais), em harmonia com a toponímia local. Muitos nomes de ruas do Leblon ainda guardam os nomes originais, que evocam a língua tupi: Igarapava (ancoradouro de canoa), Aperana (caminho errado), Sambaíba (designa um tipo de planta), Tubira (caminho de poeira), Itaquira (mina de água), etc...
Por volta de 1575, capitaneando a cidade do Rio de Janeiro e mediante o artifício criminoso de espalhar pelos riachos locais mudas de roupas retiradas de vítimas da varíola, o nefando bacharel Antonio de Salema exterminou os silvícolas, deixando a região livre para a construção de engenhos, finalidade que a seu ver justificava a carnificina, ainda que, de contrapeso, tivessem sucumbido também alguns portugueses.
Em 1606, Afonso Fernandes obteve carta de sesmaria que lhe dava o aforamento de “300 braças começadas a medir do Pão de Açúcar, ao longo do mar salgado, para a Praia de João de Souza e, para o sertão, costa brava, tudo o que houvesse”. A saber, todos os terrenos de marinha do Leme ao Leblon e mais um pouco. Preço: 1000 réis de foro anual. A viúva Domingas Mendes Fernandes transferiu o aforamento à Câmara Municipal e, de repasse em repasse, foi tudo parar nas mãos do fazendeiro Sebastião Fagundes Varella. Era, então, 1609, e o proprietário destinou as terras à criação de gado e à exploração de madeira, ambos necessários para mover o Engenho de Nossa Senhora de Conceição da Lagoa.
No ano de 1702, a bisneta e herdeira de Varella, Petronilha Fagundes, guapa rapariga de trinta e um anos, solteirona, porém, para os critérios da época, desposa o jovem oficial de cavalaria, de dezoito anos, Rodrigo de Freitas Castro, que, para expiar a culpa pelo golpe do baú, tornou-se o mais empreendedor dos proprietários, a ponto de a lagoa dever-lhe o nome. Este enviuvou cedo, enviuvou e mudou... para Portugal, onde também cedo morreu, aos quarenta e um anos, já porém cheio de honrarias, como fidalgo da Casa Real e Cavaleiro de Cristo. O Príncipe D. João VI mandou desapropriar o Engenho da Lagoa, indenizando a herdeira Maria Leonor de Freitas Mello e Castro, e boa parte das terras que iam do Humaitá ao Leblon transformaram-se no Jardim Botânico. Como os terrenos de marinha não interessassem aos propósitos que animaram o Regente, foram cedidos, em 1808, a dona Aldonsa da Silva Rosa, feliz proprietária de toda a orla marítima que ia do Leme até o Leblon... e mais um pouco em direção ao sertão, extensão de terreno que se chamava à essa altura Fazenda Copacabana. Aldonsa transferiu a posse a Manoel dos Santos Passos, que legou em testamento ao sobrinho Antônio da Costa Passos, que, por morte, beneficiou os sobrinhos Francisco da Silva Melo e Francisco Nascimento de Almeida Gonzaga, que, em 1844, venderam tudo para Bernardino José Ribeiro e... voltamos ao insigne Carlos Leblon que, por acaso, tinha os cabelos claros.
Iniciada a urbanização do Bairro, até onde se pôde apurar, as primeiras e mais conhecidas famílias que se instalaram na região foram Cordeiro de Mello, Padilha, Formenti (do inesquecível cantor e pintor Gastão Formenti) e Araújo (da qual provieram João Araújo, empresário da indústria fonográfica, e seu filho, o compositor Cazuza).
¹ Dados mais consistentes e detalhados sobre a origem do bairro e sobre a biografia dos homenageados com nomes de ruas podem ser encontrados, entre outras, nas seguintes obras, disponíveis nas bibliotecas especializadas e nos sebos:
Histórias das ruas do Rio de Janeiro, Brasil Gerson
As Freguesias do Rio de Janeiro, Paulo Berguer
História dos Subúrbios, C. Costa
A Baixada de Jacarepaguá – Sertão e Zona Sul, C. Costa
Camélias do Leblon — Eduardo Silva
Publicações esparsas de Milton Teixeira
Dorodame Moura Leitão presenteou os amigos com suas simpáticas e comoventes Recordações de um paraíso, contendo as memórias de um jovem no Leblon dos anos quarenta e cinqüenta, obra memorialística — não comercializada — com dados preciosos sobre a gente da época e a descrição correta e minuciosa de particularidades, as quais cultivou com o carinho de colecionador compulsivo.
Geraldo Carneiro, encomendado pela Editora Relume-Dumará, para o projeto Cantos do Rio, em que o autor narra suas peripécias no Leblon pós-62, fazendo-o com a verve e o talento que sempre emprestou aos seus escritos, como poeta e cronista.
² Brigadeiro, componente de Brigadas, por certo (Ainda não tinham inventado o mais pesado-que-o-ar). Depois, a Aeronáutica tomou emprestado o título.